sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Loucura

Olhei nos olhos da loucura e vi você.
Despido de seu animal, trajando um comportamento sociável de alta costura.
Atitudes engomadas e palavras de manga comprida.
Consciência passada a ferro, com todo o esmero.
Cabeça no travesseiro e dinheiro na conta, tudo normal.
Mas...
uma voz rompe o sossego.
Aquele sino não para de tocar.
Um grunido.
O sono embebido de suor te acorda, e se vai.
A cama machuca as costas.
Trêmulas pernas te levantam, mas não te sustentam.
Cambaleante, o banheiro se aproxima.
Antes do choque, um baque.
Pausa.
Você olhou no espelho e viu a loucura nos olhos.
E caiu.

Olhei nos olhos da loucura e me vi.
Rindo do sangue que varre as ruas,
jorrando das urnas,
torcendo para o tiro acertar a cabeça do bandido.
Qual bandido?
De um lado, a arma da fome.
Do outro, a fome como arma.
No meio, eu e você.
E uma bala.
Quem está perdido?
A justiça clama pela cidade.
O Rio se tranca em casa com medo do povo.
As ruas faltam o trabalho e a escola, esvaziando as pessoas.
A segurança pública defende a tese de que o prefeito é prioridade.
Está decidido?
O banho de balas à cada cartucho de lama se esvai com o bueiro pelo sangue das manchetes do ostracismo de amanhã.

Com as mãos sujas, olhei nos olhos da loucura e vi a sanidade.
Perplexa com todo esse caos.
Segurando uma arma.
Um corpo extendido no chão.
Homens correndo mata adentro.
Eu estou dentro ou fora?
E eles?
As lentes recortam a realidade em sanduíches de audiência.
Eu estou com fome.
A sanidade me olhou nos olhos e me saciou com um beijo de boa noite.

Mas eu acordo. Um dia, acordo.
Me levanto e vou para o espelho.
Cadê você?
Olhei, à procura da loucura, e não a encontro.
Mas ela está aqui, a espreita.
Eu posso senti-la correndo pelos meus dedos,
formigando meus pés,
saindo pela minha boca.
Contida nas contingências do cotidiano.
Enclausurada num corpo.
Numa casa. Numa tarefa. Num grupo.
Numa cidade.
Numa idade, sem nenhuma identidade com a realidade.
Esfacelada na parede, com seus miolos espalhados na decoração.

Olhei nos olhos da loucura e vi o amor.
Fantasiando sabores e comendo mobília.
Endividados pela carne, pagando promissórias fatias de indiferença.
Na boca, o gosto amargo do feliz para sempre,
perdido nas papilas gustativas da desilusão.
Um objeto necessário, refém de projeções,
utilitário na busca das respostas que sabemos não existir.
Mas dormimos abraçadinhos e juramos que desta vez é.
Talvez seja, quem sabe?
Apago em meio ao sonho do verdadeiro.
O amor me olhou nos olhos e me ignorou.

Mas te peguei pelo braço.
Preciso do teu sexo.
Minhas baterias estão fracas, e meu hálito, quente.
Tenho sede do teu orgasmo refrescando meu ego,
teu olhar de tesão me adulando,
enquanto finjo que gozo e olho no relógio.
Eu trabalho amanhã, me desculpe.
Tá na hora de ir embora.
Beijos!
Chego em casa e me sinto só.
Durmo no vazio do seu cheiro.

Mãe, suplico pelo teu perdão e teu carinho!
Pai, me dê a mão e me guie pela escuridão!
Tenho medo do clarão da janela!

Acordo e acendo a luz.
Na cabeceira, uma bíblia e uma arma.
Nas mãos, um copo d'água.
Um gole, um versículo, uma bala.
Olhei nos olhos da loucura e vi a salvação.

Um gole, um versículo, uma bala.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Esquina

Atravessei a rua e segui adiante.
Não dava mais para olhar para trás.
Na mesma velocidade em que o norte me chamou, veio o leste e mudou o cenário.
Quando parei para pensar, e ver, não estava mais lá. Restou apenas a sombra do último passo antes de sumir por entre os prédios.
Dinâmica, esta realidade.
Dinâmica e dura.
Na incerteza da busca, perdida entre passado e futuro, o presente sofre com a ausência.
Vácuo entre o outrora deslocado e o imponderável por vir.
A angústia antes do sono agora se espalha por entre meus dedos, contaminando tudo o que toco.
Desperto e disperso.
Acordado em desacordo.

Sigo adiante. Uma avenida se avizinha em minha vista.
Mais uma dura esquina a se cruzar.
Encruzilhada entre dois caminhos levemente opostos e igualmente satisfatórios.
A dor da perda é certa. Talvez a da vitória, também.
O conforto desolador de olhar para trás e se arrepender tá logo alí.
A ilusão do controle e de alguma previsibilidade, também.
Estarei eu no comando?
Sem certeza na escolha, certo mesmo é ter de escolher.

Adiante, além da esquina, nos dois lados deste cruzamento, há de tudo o que não posso enxergar com os olhos.
Deixo o coração como guia e atravesso o pavimento.
A cada passo, o presente se dilui na quilometragem e o passado vira a presença pesada e pesarosa do que não houve ou não haverá mais.
Sempre vai ser assim.
Sempre.
Parece fácil, parece difícil, mas é apenas uma constatação lógica:
as inevitáveis escolhas nos levam e deixam o rastro da destruição.
Darwinismo ou destino?
Depende de onde se posiciona o espectador.
Na lente do fotógrafo, um frame transitório, perdido no espaço-tempo.
Nas letras, o devaneio ansioso e redundante de quem não quer escolher, mas sabe que, parado, não vai dar para ficar.
E vai atravessar para um dos lados.

E lá na frente, o que este novo caminho me reserva?

Nada além de duas ruas com uma esquina no meio...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pulsão de vida

Pai abusivo e mãe depressiva.
Pai preguiçoso e mãe alcoólatra.
Pai ausente e mãe permissiva.
Pai adúltero e mãe controladora.
Pai agressivo e mãe passiva.
Pai destrutivo, mãe reclusa.
Pais divorciados, morou com a mãe.
Pais divorciados, morou com o pai.
Pais divorciados, morou com algum outro parente.
Pais divorciados, viveu em mudança.
Órfão de pai, mãe enérgica.
Órfão de mãe, pai negligente.
Órfão de pai e mãe.
Filho adotivo. Sabido ou descoberto com o tempo.
Criado pelos avós.
Criado pelos tios.
Criado por institutos, instituições e instituídos.
Criados pela rua.

Cruzes de berço, de casa, de sangue.
Deus e o Amor na ausência e na presença.
A primeira crença, a primeira noção de sociedade.
A primeira dor. A dor fundamental.
O fantasma e a cruz.
A eterna sombra sobre nossos ombros.

Abandono.

Sim, estamos sós, eu e você. Todos nós.
Lutando contra nós mesmos, nosso passado que vai e volta.
E nós o repetimos.

E nos tornamos pais e mães.

Ninguém é vítima. Ninguém tem culpa.
E todos temos muita. Tanto como pais quanto como filhos.

Somos a interseção entre dois acidentes, e um acidente em si.

Magia da criação.

A dor que impulsiona o belo e alimenta o monstro. Tudo ao mesmo tempo.

Vida.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Samba do Avião de Buenos Aires

Domingo, 9 de maio de 2010. Avenida Gallo (esquina com Av. Còrdoba) 955, 21° andar, apartamento 1, Recoleta/ Barrio Norte - Buenos Aires. Era de manhã. Em poucas horas, eu embarcaria de volta pra casa. Peguei a última garrafa de vinho que sobrara, sentei na varanda do apê e senti uma doce tristeza. Doce pela nova paixão, triste por deixá-la. Decidi escrevê-la.

Ah, Buenos Aires!

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Não, não estou no avião. Não ainda. Muito menos isso é um samba.
Mas dói te deixar, Buenos Aires!
Minha alma cantou desde a primeira vista. E já estou morrendo de saudades.

Das tuas ruas ruidosas, pero no mucho.
De sus Calles Floridas, abundantes em cores.
Varandas que se debruçam em ruas estreitas, te convidando para entrar e tomar um vinho.
Caminhos traçados em passos fortes, dramáticos como num tango pulsante nas veias asfaltadas da cidade-corazón.

Buenos Aires de lua térrea, que deixa o céu azul-rosado no fim de tarde para beijar el Río de la Plata.
De um ar incrivelmente puro e gostoso de respirar, mesmo sendo uma metrópole.
Talvez por ser uma grande capital da cultura.

Onde mendigos recitam García Márquez e taxistas discutem música erudita.
A arte é uma filosofia de vida. Uma obrigação porteña.
O argentino respira arte, mas, na bola, é a arte da guerra.
Com sangue gaúcho e espírito indígena, ele não joga - ele luta.
Assim como pinta, canta e escreve.
É um povo que esbraveja!

E, talvez, por isso, me diga tanto. Berra o que minha boca silencia.
Palermo, Recoleta, San Telmo, Puerto Madero.
Boca, Caminito, Plaza de Mayo. Xeneize, Millionário. Milongueiro.
Porteño.
Esse não samba é só por que; Buenos, gosto de você; a galega vai passar; e como um tango, me rasgar!

Estou apaixonado por você, Buenos Aires!

Palavras de um cariôca muy borracho!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Analgesia

Tudo friamente calculado.
Métrico e metódico.
A tensão gélida em rostos pálidos,
ávidos por sentir algo além de suas obrigações.
As aspirações esvairindo-se em transpiração.
Sonhos arquivados e usados somente para anestesiar.
E uma cerveja para reconfortar o dia.

Ratos em rodas, enfileirados,
girando o moinho do tempo em eterno pique no lugar.
Vendo a vida correr sem novidades.
O cumprimento da profecia autorrealizável da monotonia.
Desejos? De consumo.
Tudo em código de barras.
Prateleiras de amores e abraços e apertos de mão analgésicos.
Ressaca de viver de mãos atadas.

A farsa da impressão do equilíbrio,
sentada em um gigantesco barril de pólvora.
Você sabe. Eu sei.
Mas siga na sua que eu fico na minha.
Até a fagulha derradeira.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sozinho

7h da manhã, sozinho na redação.
Imagino o mundo sem mais ninguém.
Enfadonho!
Tudo perde o sentido.
Sempre estamos entre uns e outros.
Pegando de cá e levando pra lá.
Ir e vir de coisas, informações, carinhos, decepções.
Elos de ligação de uma corrente invisível.

Corrente esta cheia de pontos fracos,
de falhas incorrigíveis,
mas que se mantém firme, conectada e funcional.
Cordeirinhos, mesmo os mais rebeldes.
Não tem jeito.
Estamos presos um no outro, neste jogo cármico.
Mas quem move as peças?

O livre arbítrio?
A mão de Adam Smith?
O vento do vazio infinito budista?
A determinação de um Deus onipresente e controlador?
A ciência e quem a controla?
Ectoplasmaticamente envoltos?

Não sei.
Só me sinto ligado à você mais do que nunca.
Preso nesta massa amorfa de coisas táteis e invisíveis.
Estamos no mesmo barco, e ele está afundando.

São 7h42 e ainda estou sozinho na redação.

Sozinho?

Não creio.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Tanto faz

Tanto faz acordar ou dormir
O chão já não sustenta minha leveza
As ruas estão vazias, assim como todos nós,
cheios de ódio gasoso nos pulmões,
esperando o próximo mês para pagarmos pelo que não fizemos.

Tanto faz ter alguém ou ficar só
se estamos sempre sozinhos,
ou, no máximo, mal acompanhados.
Abandonados por nós mesmos na porta de casa
sem beijo de boa noite nem um convite para entrar.

Tanto faz você me dizer a verdade,
se seu corpo e suas atitudes mentem.
você já não sabe o que é ou não é real
e, na realidade, até você pode ser mentira,
dado o meu ceticismo quanto à essas coisas.

Então, tanto faz se a história é bonita,
se, no final, tudo vai dar certo.
O que importa é sempre o prêmio,
o pote de ouro no fim do arco-íris,
a fantasia recompensadora.

Tanto faz se a foto ficou boa,
se você está fofa e sorridente ao lado de sua amada família,
quando você, sorrateira e baixa, se esconde nas sombras
e vive uma segunda fornada de hipocrisia envolta em carne e suor.
Sorrindo a cara lavada da escrotidão contida.

Tudo e nada é a mesma coisa em sua vil virtude desvirtuada.
Só há você, e, até mesmo isso você tortura.

Ah, mas não se preocupe.
Esses valores são tão ultrapassados!
Os tempos mudaram, meu amigo. Não existe romantismo.
Utopia é para os ingênuos, despreparados.
O que vale é o agora, é o saldo, é a sensação.
O tempo é um conta gotas maldito, ampulheta que amputa e expurga.
Quando o hoje virar amanhã, eu me viro.
Deixa pra depois.
Sei lá, tanto faz.

Foda-se.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Brzl

Em casa, mas no direction home. Vendo e ouvindo Bob e suas histórias. Allen passou e deu oi. Parei tudo e fui escrever.

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Brasil...ô Brasil!
Para com isso, já cansou.
Não quero mais viver de migalhas.
Não quero mais viver para impostos,
impostores,
empostados.
Empossados por nós mesmos.
Pobres coitados!

Cansei do medo de sair na rua,
cansei das bundas forçadas,
das celebridades,
peladas,
desnudas de tudo, menos de olhares,
dos olhos de quem não se cansa de ver o mundo passar
e passam juntos com a boiada.

Não suporto te ver em mãos vermelhas, azuis, brancas, verdes e amarelas,
e caminhar sempre para um futuro mais negro.
País do futuro. Sei...

Perco a esperança quando te leio nos jornais,
e, principalmente, quando vejo sua foto estampada com tarja preta na cara,
iniciais e multidão revoltada,
tudo fachada para esconder a verdadeira bocada,
suja e mal lavada,
com bafo de morte,
da carne do Zé ninguém, mastigada.

Por mais que eu creia na beleza que passa e na onda que molha meus pés,
não dou risada.

Subo ao topo do pico da neblina e não vejo nada,
só escuto.
Puto da vida em saber que ali não é mais alto do que da pilha de papel do planalto,
Everest burocrático que entrava e escamoteia,
escraviza bolsos e derruba bolsas,
e solta balões em junho para fazer queimadas.

Nos comerciais, vejo a vida passando de canal em canal,
E nenhuma novidade.
Se bem que preciso mesmo de um tênis novo.
E um emprego.

Alguém tem que pagar as contas,
e apagar a luz.
Mas vou deixar a água correndo,
e mergulhar no ralo do chuveiro para ir nadando até o esgoto,
e, com a merda,
boiar até o Oceano Atlântico.

Quem sabe assim me vejo livre de você, Brasil,
ou talvez seja melhor você nos descartar.
Sim, nós, os carcamanos do fascismo cara-de-pau burguês reacionário.
Ou qualquer blábláblá que acalme minha consciência.

Gottra drink, man.
Tô saindo fora.

#Querumchopp?

Melhor assim.

Fóloumí que tánaboa.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Poetas perdidos

Uma geração inteira de poetas perdidos.
Estraçalhados em baias,
aprisionados em ilhas
e cegos por planilhas.
Vivendo softwares,
em piloto automático.
Pensando em cifras,
nada musicais,
por necessidade.
São os tempos, eu sei.
Não se luta contra a evolução.
Mas se evolui também.
E a repressão do poeta não é crescimento, é adequação.
Isso não.

E seguem as hordas,
esbravejando em celulares,
andando aos pares,
em milhares,
em bares e embates,
baladas baratas para esquecer a verdade.
Triste verdade da condição humana,
o poeta contra a própria natureza.
Replicando a criação já criada,
e aquivando a criação malcriada.
Se fazendo de ferramenta, alimentando um sistema,
sendo necessário, e necessariamente remunerado.
Esse é o jogo, eu sei.
Mas joga-se também, toma-se o controle.

Aliás...controle, necessário.
Ilusões,
disso, os poetas entendem.
E por que se cegam diante delas?
Não é a paixão inventada,
é o esconderijo seguro.
Abrigo amigo que me impede de ser quem eu tenho medo de ser.
Sem saber que já sou.

O mundo não precisa de mais um apertador de botão.
E se precisar, deixe para outro.
A liberdade da poesia é para poucos.
(E já somos muitos, esses subutilizados poucos)
A criatividade de verdade, e não a da publicidade que vende obediência (sem maldade),
o poder de fazer nascer, do nada, tudo.
Um mundo em trasnformação no confronto entre a matéria-prima mundana e o pensamento revirante,
revoltado e revoltante.

O instante que aprisionamos na mente e libertamos em palavras.

O grito, em cada micronésimo de decibel da dissonância das cordas vocais em vibração;

O olhar, em cada partícula de poeira que se esconde no invisível do ar, porém, é testemunha de tudo aquilo que a alma pode dizer na força dos olhos;

O beijo, e cada molécula da água da saliva que já percorreu rios e oceanos, já foi ar, já foi terra, já foi sangue e já fez história, e hoje está entre você e quem você ama - para depois transitar para o imponderável.

A poesia é para quem é poesia.
Palavra em movimento.

E você teima em se esconder de você.
Gato e rato convivendo em um sótão escuro, cheio de riquezas,
abandonado.
E senta de novo em seu computador.
"Pela necessidade".
Fuga, meu irmão, é fuga.
O mundo é teu, e você não toma posse.
Não quer? Foda-se.
Fica aí na sua mesinha.
Vá comprar móveis novos para preencher o vazio lotado da sua sala de estar.
Engula um sanduba e não mate de vez a sua fome dolorida pela vida em estado de morte.
Vá rodar redemoinhos e aspirar por furacões, e se satisfazer na brisa.
Levante-se agora e vá lá fazer nada pra alguém, em troca de alguma coisa, dando muito para quem te manda e ganhando pouco para quem rala.
Entra na roda que tá tudo certo. Vai melhorar, sim.
Se acalme, tome um rivotril e durma com os anjos.
Amanhã tem trabalho.

Acorde e vá.
Pegue o ônibus e salte.
Caminhe, bata o crachá.
Pegue um café e senta.
Eficiência. Metas. Branding. Brainstorming. Benchmarking.
On demand. Just in Time.
Lassez-faire. Mais-valia.
Respira e vai pra casa.
Crachá, rua.
Pegue o ônibus e salte.
Casa, enfim.
Beijo de boa noite.
"Boa noite".
Boa sorte! Boa morte!
Viva bem assim,
seja feliz, é o que vale!

Mas, lá no fundo,
no nanossegundo entre o sono e a consciência,
na inocência dos desejos,
na inconfidência dos rascunhos escondidos,
poetas.
Não se renegue.
Seja.

sábado, 10 de julho de 2010

Então tá!

Poema alcoolizado, escrito depois das 4h da manhã.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

ENTÃO TÁ

E aí?
Você foi?
Como foi?
Foi em vão?
E então?
Resolveu?
É teu?
Mereceu?
Então tá!

E daí?
Já passou?
Vai rolar?
Será?
Será...
Não dá!
Se não foi, passou.
Se não é, já foi
ou nunca será.
Então tá!

E o que há?
Ah...o que há!
Nada além do que é.
O que não é, não há
nem nunca houve
além do tempo gasto a pensar...
se há,
se é,
e, não.
Então tá!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Copa x Champions x Euro - Estatísticas

Levantei as seguintes estatísticas relacionando a Copa do Mundo com outras competições:

CAMPEÕES DO MUNDO E DA LIGA DOS CAMPEÕES NO MESMO ANO

1974 - ALEMANHA/ BAYERN MUNIQUE: MAIER, SCHWARZENBECK, BREITNER, KAPPELMANN, BECKENBAUER, HOENESS, MULLER

1998 - FRANÇA/ REAL MADRID: KARENBEU

2002 - BRASIL/ REAL MADRID: ROBERTO CARLOS

2010 - HOLANDA/ INTER DE MILÃO: PODE SER SNEIJDER (10° JOGADOR A CONSEGUIR O TÍTULO MAIS IMPORTANTE DE CLUBES E DE SELEÇÕES NO MESMO ANO)


SELEÇÕES FINALISTAS DA COPA E DA ÚLTIMA EDIÇÃO DA EUROCOPA


EURO 1968 - ITÁLIA 2 X 0 IUGOSLÁVIA // COPA 1970 - BRASIL 4 X 1 ITÁLIA

EURO 1972 - ALEMANHA 3 X 0 URSS // COPA 1974 - ALEMANHA 2 X 1 HOLANDA

EURO 1980 - ALEMANHA 2 X 1 BÉLGICA // COPA 1982 - ITÁLIA 3 X 1 ALEMANHA

EURO 2008 - ESPANHA 1 X 0 ALEMANHA // COPA 2010 - ESPANHA OU ALEMANHA X HOLANDA

OU SEJA:

- 4a VEZ QUE UM FINALISTA DA EUROCOPA CHEGA À FINAL DA COPA SEGUINTE

- SE FOR A ESPANHA, É A 4ª VEZ QUE UM VENCEDOR DA EUROCOPA CHEGA À FINAL DA COPA SEGUINTE

- SE FOR A ALEMANHA, É A 3ª VEZ QUE ELA FAZ A FINAL DA EUROCOPA E, SEGUIDAMENTE, A FINAL DA COPA DO MUNDO

- NAS OUTRAS DECISÕES DE COPA, APENAS 1 DAS 3 VEZES O FINALISTA DA EURO GANHOU TAMBÉM A COPA DO MUNDO (1974)



VALE LEMBRAR: ESTA COPA SERÁ A PRIMEIRA EM QUE UMA SELEÇÃO EUROPÉIA VENCERÁ FORA DO CONTINENTE EUROPEU

TAMBÉM VALE LEMBRAR: ALEMANHA E HOLANDA SÃO DOIS DOS PAÍSES COM MAIS DESCENDENTES RESIDINDO NA ÁFRICA DO SUL

SE A ESPANHA PASSAR, SERÁ A PRIMEIRA FINAL DE COPA SEM BRASIL, ARGENTINA, ALEMANHA OU ITÁLIA

OUTRA: ESPANHA E HOLANDA SERIA A 6ª FINAL A GARANTIR UM CAMPEÃO DO MUNDO INÉDITO. OUTRAS: 1930 (ARG X URU), 1934 (ITA X TCH), 1954 (ALE X HUN), 1958 (SUE X BRA) E 1978 (ARG X HOL)

domingo, 4 de julho de 2010

Bicho, Homem e Máquina

O bicho procria
O homem cria
A máquina recria

O bicho é
O homem sabe que é
A máquina é programada pra ser

O bicho faz
O homem produz
A máquina executa

O bicho acorda
O homem desperta
A máquina liga

O bicho se alimenta
O homem come
A máquina carrega

O bicho vê
O homem interpreta
A máquina compara

O bicho urra
O homem fala
A máquina transmite

O bicho morre
O homem deixa saudade
A máquina é descartada

O bicho é bicho
O homem é bicho e máquina
A máquina...recria

quinta-feira, 1 de julho de 2010

7654

Neste intervalo da Copa, decidi jogar uns negocinhos no ar...

7654

Planam os olhos acima do negro mar
A lua está do meu lado
Na janela vejo a altura de um sonho
Com destino e data, mesmo assim, incerto
Temo por instabilidade
Luto contra o estável, porém
O perigo é afrodisíaco. Até a página 15

Me conforto em bocas e ombros
E me desconforto em sua maciez
Pela janela olho tudo passar mais uma vez

Te perco no reflexo do vidro
E te acho sob a luz, do meu lado
Num copo bebo saudade
Com gosto de estragado

Em linhas tortas, transcrevo, vulgar
Toda minha insensatez
No seus olhos, vejo tudo passar mais uma vez

E se de repente, da lua eu cair
E beijar de sangue o chão
Não me lamento por partir
Pois nada teria sido em vão

E antes do adeus
Em uma overdose de lucidez
Tive que relembrar, tudo passar mais uma vez.

sábado, 12 de junho de 2010

Encaixe

Coréia do Sul 2 x 0 Grécia

Jogo, de certa forma, previsível.

A Grécia é um time de uma nota só: bola pro alto e vamo lá!

A Coréia também não tem lá muitos acordes: run, forest, run!

Ei, mas, peraí. Esses coreanos estão jogando direitinho! Park Jisung mostrou o que os fãs do Manchester United já sabem: muita disposição e velocidade. Em geral, uma equipe mais técnica, um futebol em evolução. Aposto que passa para a próxima fase e pode até surpreender. Vai depender do encaixe com o adversário, de seu jogo fluente em contra-ataque, porém, pouco calejado e frágil fisicamente.

Vai depender de encaixe e de sorte. Como falei, a Grécia só é boa nas alturas. E o primeiro gol coreano veio de um escanteio. A bola passou pelas cabeças helênicas e encontrou, dentro da pequena área, os pés de Lee Junsoo. O segundo foi a cara do time, e de Jisung. Pressão na saída de bola adversária, bola roubada e finalização com categoria.

Melhor em campo: Park Jisung, pela liderança moral e técnica, além da correria.

Grécia? Como foi parar na Copa? Pior time até agora, pra mim.


Argentina 1 x 0 Nigéria

Muitos craques em campo, porém, de forma desordenada. Esta é a Argentina de Maradona. Talvez a melhor leva de jogadores ofensivos do país em muito tempo – e, com certeza, a melhor de toda a Copa -, desperdiçada em um esquema que desloca vários jogadores de suas características. Tévez armando. Di Maria marcando. Higuaín centralizado. Pra quem defende a tese de “se colocar os melhores em campo, independente de posição”, tá aí o resultado.

Time sem encaixe

Já os Nigerianos...nada. Timezinho safado, sem espírito, sem personalidade. O técnico sueco Lars Lagerback conseguiu “suecar” a criatividade e domar as Águias Indomáveis africanas. Equipe que marca bem e joga mal.

Como foi o jogo? Verón bate escanteio, Heinze faz de cabeça o gol do jogo. Fora isso, a Argentina até criou chances, mas não teve competência para ampliar.

Melhor em campo: Enyeama, goleiro da Nigéria. Pelo menos umas três ótimas defesas, pegou muito.

Ah!

Antes que falem algo, Messi jogou bem, sim. Fez o que pode, prejudicado pelo fraco jogo coletivo do seu time.

Outra

Verón, aos 35 anos, enquanto esteve em campo (saiu aos 72’) foi o jogador que mais correu. Mérito dele e demérito da “zona” tática maradonista.


Inglaterra 1 x 1 Estados Unidos

Na cabeça dos ingleses, a chave para o bom futebol do English Team está no encaixe entre Lampard e Gerrard no meio-campo. Ambos tem características similares e acabam se embolando. Capello arriscou, mantendo ambos pela faixa central do campo. Nos primeiros minutos, deu certo: Gerrard recebeu triangulação e abriu o placar.

O jogo tinha todo sotaque britânico, até que, no fim do primeiro tempo, em um chute despretencioso de Dempsey, o goleirão Richard Green tentou encaixar.

Cabe um interlúdio: Green foi escolha de última hora de Capello, em dúvida entre este e David James, de 39 anos e com duas Copas nas costas (uma como titular).

Green tentou encaixar, mas não encaixou. Papou um frango magistral.

A partir daí, os americanos – que não vinham jogando nada – passaram a igualar as forças. O jogo se entrelaçou de tal forma que deu velha: 1 a 1.

Ambas devem passar no Grupo C.

Melhor em campo: Onyewu (EUA). Passou a temporada toda lesionado no Milan, mas jogou muito hoje. Com ele e Thiago Silva, os Rossoneri tem boas perspectivas de futuro na zaga.

E os EUA?

Com jeitinho, pode rolar. Time rodado, bons jogadores. Pode chegar numas quartas.

Dever de casa para Capello

Pensar em como encaixar Lampard e Gerrard. Talvez jogando o capitão pra esquerda e entrando um volante ali pelo meio. Do jeito que foi hoje, não rolou.

Dar uma benzida no gol britânico seria bom também. Desde Shilton, só desastre (injustiça com Seaman, talvez, mas o gol do Ronaldinho em 2002 marcou).

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Água de salsicha

Seguindo a orientação de Leonardo Vicente

Sentei disposto a escrever sobre França e Uruguai. Vou fazer que nem eles...nada.

Bom, como já escrevi esta primeira frase, me esforçarei por mais algumas.

França:

- Bons jogadores, timezinho chinfrim. Com Gallas, Evra, Ribery, Anelka, Henry (banco?), Malouda (BANCO??), esse Domenech consegue montar uma equipe apática.

- Ainda por cima ressucita o Govou, que NEM OS OUTROS JOGADORES QUEREM COMO TITULAR (!!). Na boa...

- Cara de pau do Henry pedindo mão na bola em um lance de mão passiva.

- Melhor em campo: Evra e olhe lá.

Uruguai

- A Celeste Olímpica veste, de forma triste, como se fosse a camisa de um time de aterro. Apagada tal qual o futebol do time.

- Lugano antigamente era um bom zagueiro, porém, batia. Hoje em dia ele bate, porém...bate.

- Destaque: O camisa 14 Lodeiro. Entrou e foi expulso após 14 minutos em campo. Antes usasse a 13 do Zagallo.

- Destaque 2; Legal a camisa do 13, Loco Abreu, contendo todas as iniciais do seu nome de monarca, RG, CPF, tipo sanguíneo e certificado de pedigree.

- Melhor em campo: Muslera, o goleiro que, mesmo sendo pouco exigido, se destacou no Uruguai. Pra você ver...


RESUMO:

Faltou futebol à esta partida, como faltou também à este post.

Eu torci...

Eu torci para a África do Sul. Não por ser a equipe teoricamente mais fraca. Não por serem os donos da casa. Não é uma equipe brilhante. Seu estilo de jogo não me encanta. Tá, o Parreira é brasileiro, tricolor, mas não tem nada disso – até porque, tricolor por tricolor, o México também é. Me peguei gritando e torcendo pelos Bafana Bafana hoje porque foi uma equipe vibrante.

Ah, eu torci!

Tecnicamente, a partida foi fraca. Movimentada, com boas chances de gol, mas fraca quando se fala em Copa do Mundo. O México se comportando como se a qualquer momento pudesse resolver o jogo – atacando, pero no mucho. Os sulafricanos errando muitos passes, porém, bem posicionados. Quase pueris. Esta foi a tônica de um primeiro tempo dominado pelo México. Mas, antes do intervalo, o time da casa deu uma apertada, acertou passes e ganhou confiança. Anunciava-se um novo segundo tempo.

E foi o que aconteceu.

Os Bafana² vieram ligados, encaixaram a marcação e, finalmente, acertaram contra-ataques. Em um deles, Tshabalala fechou com um belo gol no ângulo a rápida troca de passes, de acordo com o futebol moderno. Belíssima jogada! E logo de um jogador que lutava muito, mas jogava mal. Símbolo da ressurreição fenixiana dos sulafricanos.

Em caminho inverso, o México destoou. Jogou nadinha no segundo tempo. Para completar, o DT da Tri, Javier Aguirre, me coloca o Cuauthémoc Blanco em campo – ou o que restou dele após uma noitada ou uma churrascaria -, lamentável. Só que, nestas coisas que fazem do futebol algo mágico e frases como estas, mero clichê, uma bola alçada na área, um zagueiro (sulafricano) dormiu no ponto e outro (mexicano) mostrou categoria. Rafa Márquez dominou bola difícil e bateu sem olhar.

Empate injusto. Pelo renascimento sulafricano. Pelo golaço do Tshabalala (um crossover do Fábio Simplício com Davids). Pela atuação de alto nível do volante Dikgacoi. Pelo simpático caneludo Mphela, que perdeu alguns gols, mas correu e participou do gol. Pelo água de salsicha do Modise, Robinho sem mojo, mas que até tem algo. Ah, vamos lembrar também o goleirão Khune, que superou o arqueiro rival (de totó?) Pérez na qualidade, salvando algumas boas chances mexicanas.

Quem me lê agora pode achar que foi um baile sulafricano. Diria que foi mais para uma desordeira sinfonia de vuvuzelas. Vibrantes e sem melodia. Barulho munido a pulmões emocionados.

A equipe de Parreira me deu a impressão de que até pode se classificar com uma certa dose de sorte (não confio nesta França de Domenech...). O México tem uma ótima geração, mas hoje se mostrou uma equipe dispersa. Grupo A em aberto. Grata surpresa!

A Copa começou bem. E já me arrancou uma inesperada comoção, até porque a nossa Seleção não me empolga – apesar de achá-la extremamente eficiente e candidatíssima ao título.

Taí. Gostei.


OBS1: Fui catar a ficha deste Tshabalala ´logo após o apito final, já pensando em escrever. Nenhuma surpresa, já estava atualizada com o 1º gol da Copa. Só que o escriba que o fez nos deixou uma surpresinha no fim do texto. Check it out!


http://pt.wikipedia.org/wiki/Siphiwe_Tshabalala

Siphiwe Tshabalala(Soweto,25 de Março de 1984)é um jogador sul-africano e ele é meio campista.Seu atual clube é o Kaizer Chiefs. Fez o primeiro gol da Copa da África do Sul no dia 11/06/2010. Foi nomeado melhor jogador do dia de hoje, 11 de Junho de 2010, pelo Grande Estatuto da Imprensa da Figueira da Foz Internamente dos Tomates da Filha dele.


Seria este "Grande Estatuto da Imprensa da Figueira da Foz Internamente dos Tomates da Filha dele" o nome do complô mundial da mídia pelo domínio das nossas mentes? Ou uma seita messiânica abseada na previsão através da leitura das verduras e suas crias (!)?

Oh, dúvidas...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quarta-feira de lições (Parte 2)

Não vou copiar-colar a Intro. Pode ler no post anterior ;)



ORGANIZAÇÃO (VITÓRIA 2 X O VASCO)

Ao contrário da Inter de Mourinho (mesmo considerando as devidas proporções), o Vasco que se vê é uma zona em campo. Refém dos lampejos de Philippe Coutinho e da garra de Carlos Alberto. Previsível. Levando-se em conta o nível do futebol brasileiro, não dá para se dizer que não tenha peças para, ao menos, montar uma equipe decente. O que se viu no Barradão, contra o Vitória, foi uma equipe para brigar na parte de baixo da tabela no Brasileirão.

Não que o Leão da Barra seja um primor de técnica e organização. Mas, mesmo sem sê-lo, ganhou por 2 a 0 e vai à São Januário com uma boa vantagem.

Gaúcho balança, e com alguma razão. Ainda não mostrou ao que veio.


AMIBIÇÃO (UNIVERSITÁRIO-PER 0 X 0 SÃO PAULO)

O São Paulo visitou o Universitário, do Peru. Claramente, o tricolor paulista é mais time. Se ainda não se consolidou como equipe, o esboço que hoje existe é superior ao aplicado, porém, limitado time peruano. No entanto, faltou ambição.

Alguém já vai levantando para lembrar que a expulsão de Richarlyson prejudicou a equipe. Tá, um a menos nunca ajuda. Mas o que faltou ao São Paulo foi ambição. Na hora de recompor a defesa, Ricardo Gomes tirou Marlos para colocar Júnior César, e matou a válvula de escape do time. Dagoberto, mal, ficou em campo. Washington, isolado, também. O Universitário não criava o suficiente para justificar a precaução exagerada. E o que se mostrou no restante do jogo foi a superioridade tricolor, que ameaçou timidamente a meta adversária com as já enfadonhas bolas aéreas. Time de uma tecla só.

Ambição. O que faltou ao São Paulo no duelo contra o Santos no Paulistão, faltou na Libertadores contra o Universitário.


CORAGEM (FLAMENGO 1 X 0 CORINTHIANS)

Em oposição ao São Paulo, o Flamengo foi corajoso contra o Corinthians. Não, o rubro-negro não jogou bem, nem o Corinthians. Afinal, o Maracanã tava numa noite “Júlio DeLamare” graças à chuva. Mas, partiu para cima. Desorganizado na criação, Adriano fora de forma...mas não abriu mão de tomar a iniciativa.

Michael foi expulso. Corinthians com mais qualidade técnica. O que o técnico interino Rogério Lourenço poderia fazer? Tirar o inoperante Adriano ou o isolado Vagner Love lá da frente?

Não. Manteve a mesma estrutura. Dois atacantes, três homens no meio, Juan e Léo Moura puxando contra-ataques. Pênalti conquistado, Adriano bate. Um a zero Flamengo.

Mano Menezes mexe. Arrisca no intuito de sufocar o Flamengo. Mas não consegue. Não tão bem quanto a Inter de Mourinho, mas de forma eficiente, os rubro-negros montam uma boa parede e impedem um Corinthians pouco inspirado de empatar.

O Flamengo leva uma vantagem pequena para o Pacaembu. Não dá para descartar o Timão, mas Ronaldo e companhia vão ter que jogar de verdade, o que não aconteceu no Maracanã.

Vale um OBS para a atuação ridícula de Ronaldo, totalmente fora de forma física e técnica.

Vale outro OBS para a marra de Adriano. Não sabe lidar com críticas? Faça por onde, ué...não pode é faltar a um monte de treinos, desfalcar o time em jogos decisivos por motivos questionáveis e querer aplausos eternos.

Fez um gol de pênalti e a torcida cantou o seu perdão. Adriano não comemorou, olhou feio para a galera e fez biquinho. Tanto na bola quanto na atitude, não merece ir à Copa. Uma pena.


PODER DE DECISÃO (ATLÉTICO-MG 3 X 2 SANTOS)

O Atlético Mineiro não se intimidou ao enfrentar os Meninos da Vila. Partiu pra cima de forma consistente. Não mostrou medo do volume ofensivo santista. Em casa, o Galo jogou e deixou jogar.

Num duelo de bons técnicos, Luxemburgo e Dorival Júnior mostraram suas garras. O Atlético veio com um 4-4-2 que variava para um 4-3-3 graças à versatilidade de Fabiano. No Santos, a linha de três jogadores de movimentação e criação no setor ofensivo – Ganso, Wesley e Robinho – dava o ritmo de uma equipe que muda durante a partida. Dois times de vocação ofensiva, jogando pra frente como arma para bater o adversário.

Tão estratégicos quanto Mourinho e sua retranca. Questão de respeitar as valências e as carências de suas equipes.

Uma partida aberta, decidida no talento de Diego Tardelli. Três gols típicos de um matador. Longe de ser um atacante fantástico como promete ser Neymar (que não jogou), mas eficiente em seu ofício.

Mas o Santos é mais time, e isso se mostrou no fato de, mesmo jogando menos que o adversário, fez dois gols em jogadas bem trabalhadas. Ganso, Wesley e Robinho. Aquele trio que joga solto pelo campo. Criação.

Poder de decisão que pode decidir o confronto.

O Galo fez três e jogou melhor. Mas não soube matar o confronto. Pode ser que não tenha a mesma chance na Vila Belmiro.

Quarta-feira de lições (Parte 1)

Alguns dos jogos desta quarta-feira trouxeram importantes pontos de reflexão. Muitos, desprezados por torcedores e parte da imprensa. De fato, no futebol nada é preto no branco. Mas algumas variáveis influenciam diretamente nos resultados e devem ser levadas em conta.

ESTRATÉGIA - BARCELONA 1 (2) X 0 (3) INTERNAZIONALE

Estratégia: Conceito de alocar recursos para se atingir objetivos. Saber o que quer conquistar e o que tem em mãos para fazê-lo. Planejar e executar. No Camp Nou, o que se viu foi o funcionamento de uma máquina. Disciplinada e versátil. Entrega total. Foco.

Fruto da cabeça de José Mourinho, engenhoso montador de equipes, talentoso leitor de jogos. Após ganhar o primeiro jogo em Milão por 3 a 1 (jogando um bom futebol, diga-se de passagem), ele sabia o que teria pela frente. Um Barça que valoriza a posse de bola como ninguém, tem alguns dos atletas mais talentosos do futebol mundial e vem empurrado pelo espírito de luta catalão. Um time que sabe criar chances de gol com naturalidade. Mas, será que se comporta bem precisando criá-las?

Vamos a uma análise estratégica da Inter de Mourinho nesta partida.

Objetivo: Passar de fase // Pode perder por um gol de diferença

Recursos: Defesa sólida, time forte fisicamente, jogadores versáteis e disciplinados taticamente.

Adversário: Time que gosta da posse de bola e sabe criar espaços. Vocação ofensiva. Triangulações e passes curtos. Joga preferencialmente pelo chão.

Estratégia: Dificultar posse de bola e criação de oportunidades. Ocupar espaços para evitar infiltrações. Jogar no contra-ataque.

Comportamento tático: Sete jogadores atrás da linha da bola. Marcação por zona. Participação ativa dos homens de frente no combate antes do meio-campo. Forçar adversário a optar pelo jogo aéreo.

Bem, o resultado você já sabe. O Barça rodou, rodou...e rodou. A Inter fechou um paredão e agüentou a pressão. O diferencial? A consciência estratégica. Em nenhum momento se viu a equipe nerazurri assustada com o volume de jogo catalão. Usou os recursos físicos e a qualidade defensiva a seu favor. Contra os blaugranás, a falta de brechas e, principalmente, o relógio. Fez um gol, e até poderia ganhar. Mas não ganhou, e vê a Inter passar adiante.

Cheque-mate do estrategista José Mourinho. Inter classificada com méritos, pois jogou de forma mais consciente os dois jogos. Teve o domínio do tabuleiro nos 180 minutos.

domingo, 11 de abril de 2010

A culpa é do cachorro. Ou do vento.

Data, 24 de maio de 2003.
Personagem: Alessandra Rodrigues, grávida de gêmeos.
Local: Porto Ferreira-SP.

Sinopse: Alessandra deu a luz a duas crianças, mas só saiu do hospital com uma. A menina, Lara, voltou para casa com os pais. Já Luiz Felipe não resistiu a problemas cardiovasculares, e morreu. No entanto, a mãe não acreditou nos médicos e, durante anos, buscou justiça. E ainda busca.

A história, contada no Fantástico deste domingo, é daquelas que nos faz desacreditar. Perder a crença em todas as instâncias de um Estado que nos retira muito e nos dá muito pouco. E ainda resolve nos vilipendiar.

Alessandra duvidou da morte do menino. Não pelo sentimento de negação - natural a qualquer perda -, mas pelo fato de seu marido, Pedro, ter visto a criança pouco antes de dormir, e ter ouvido do médico que tudo estava bem. Pela manhã, a notícia de que Luiz Felipe não resistira. Pouco depois, o enterro apressado, de caixão fechado. Quadra 4, Cova 231.

O instinto materno gritou incessantemente. O pai, incrédulo, consolava a inconsolável esposa, mas insistia nas investigações. Três anos depois, o casal garante na justiça a exumação do corpo da criança e a coleta de DNA. O resultado, para surpresa de todos – menos de Alessandra -, mostrava que a criança enterrada não era Luiz Felipe Rodrigues.

A mãe sentia um misto de esperança e desejo por justiça. O filho poderia estar vivo, em algum lugar. No entanto, alguém haveria de explicar o sumiço – e pagar por ele. A prefeitura, gestora do hospital, indeferiu o pedido de indenização, “improcedente”. Contestava a exumação, dizendo que o corpo examinado não era o de Luiz Felipe, que teria sido enterrado na Quadra 1, Cova 231. É o que consta no livro. O problema é que, vendo-o, nota-se uma (bem) provável alteração de “1” para “4”. O pai, que esteve no enterro, contesta, insiste no Lote 4. O próprio funcionário que preencheu a ata afirma que está na 4, quadra onde sempre são enterradas as crianças.

Como se não bastasse a lambança, descobre-se que o mesmo homem que geria o hospital controlava também o cemitério. Calma, não se precipite, tem mais. Ouvido pela reportagem, este senhor, diretor de duas instituições públicas, reiterou veementemente que os procedimentos na casa de saúde foram normais. Até ai, não há o que se possa contestar ainda. Quanto ao cemitério, não soube explicar o que houve com o livro. Ele ainda desaconselhou a exumação do “corpo certo”, afirmando que constantemente as placas das covas mudam de lugar por ação do vento, ou de algum cachorro que invade o local.

?????

Pelo amor de Deus!!!

Esta triste história continuará nos tribunais. As respostas que busca Alessandra podem até vir em forma de verdade, mas serão cobertas por pontos de interrogação. O motivo? O descaso do Poder Público com o cidadão. E ele aparece em todo lugar.

Está na nota zero do prefeito para a cidade durante a tragédia das enchentes, como se ele mesmo não tivesse parte na falta de segurança das vias e moradias do município. Está no orçamento público, que vê milhões saírem dos cofres públicos e chegarem aos centavos em serviços para o cidadão. Está no médico que trata mal o paciente em um hospital. Está no policial que provoca mais medo do que segurança. Está no congressista que constrói fortunas sem renda compatível e sem ser importunado por isso. Está na esquerda, na direita, no centro. E o interesse da população, bem abaixo na lista de prioridades.

A culpa deve ser mesmo do cachorro, ou do vento.

Por outro lado, cachorro não vai às urnas, e o vento carrega pra longe os santinhos de outubro, assim como o faz com os confetes e serpentinas na terra do carnaval sem fim.

Sem fim e sem graça. Rindo da folia efêmera e vivendo em uma eterna quarta-feira de cinzas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Chuva

Uma Chuva que parou o Rio. Trouxe o caos para muitos, e o ócio para outros tantos. E no meu caso, ao me faze parar, me fez pensar.

Vivemos em uma cidade maravilhosa. Tão linda quanto submersa. Submersa na desordem urbana, na violência, na falta de planejamento. Resultante de uma equação que todos conhecem, mas ninguém sabe resolver. Quem deveria solucioná-la, dá nota zero para o atual estado da cidade. Então, qual a nota do prefeito? Tá bom, a culpa não é só desta gestão. Mas é desta gestão também. O que é fato – e clichê – é que nós pagamos a conta. Talvez por não escolhermos direito.

Nós, sortudos por não sermos assolados por fenômenos naturais mais perigosos, como furacões e terremotos, sofremos com outra arma da natureza: a autodestruição. O Rio é como quase toda grande cidade global, só que alguns problemas gritam mais alto. E quase todos estes decorrem do nosso descuido com o nosso próprio meio. Uma mentalidade que prioriza o “eu” e apaga o “nós”. A não ser no discurso de protesto, ou no horário eleitoral.

Mas a chuva não é só notícia ruim. Chuva é vida no campo. É refresco na garganta. É alívio no calor. É esperança na seca. É fundamental no ciclo da vida.

Aliás, a chuva é uma perfeita metáfora para o homem. Ela não é boa nem ruim. Ela é capaz de ser boa ou ruim, dependendo das circunstâncias. Ela nutre a beleza e alimenta o caos. É fruto das circunstâncias, porém, é determinante também. É parte de um todo, apesar de nós insistirmos em enxergar este todo por partes.

No fim das contas, chuva é só uma palavra, representante de uma idéia.

Tá na chuva que cai lá fora, enquanto eu olho pela janela e choro. Ela chove sem parar. Tem ritmo. “Mas só chove, chove”. Quando passar, é só abrir a janela e ver o sol.

Tá na chuva de gols do Messi, que a chuva me fez testemunhar.

Se chover na horta, é bom. Mas se chover no molhado, é desperdício.

Você pode tomar um banho de Lua, mas se esconda durante uma chuva de meteoros. Ou gostar de ver as nuvens de algodão, que, ácidas, podem corroer.

Como tudo em excesso, chuva demais faz mal. Eu não recomendo.

Mas não tem jeito.

Ou melhor, tem. Reclama com o Sol, que é um dos culpados. Tão poético e contraditório quanto.

Bem, nesta briga eu não me meto. Melhor ficar fora da órbita, debaixo da minha camada de ozônio para não queimar meu filme.