Já fui mal visto, pela forma como me vestia. Hoje, tive que começar
a aprender a me vestir, para ser visto como eu mesmo me via, ou talvez como eu
gostaria de ser visto. Não que eu ainda saiba me vestir, mas acho que já me
viro melhor, e sou mais bem visto. Não
que eu precise disso ou daquilo para ser. Não que eu seja o que eu vejo em mim,
o que projeto, ou o que qualquer um possa ver e projetar. Sou apenas um
projeto, ao vento, tentando manter o rumo em um mundo onde o caos é a única
lógica que não submerge a nada além de si mesmo.
Sim, o mundo é esse, e é assim que as pessoas são. Sociedade
do espetáculo, insaciedade da imagem, do culto à aparência, à superfície. O
belo como fuga da morte, do horrendo, do finito. Nas profundezas, apenas os
traumas, as lembranças e as realidades que tanto nos esforçamos pra calar. Logo
eles, que nos explicam e que tanto queremos ignorar. Logo eles, que nos
espreitam e ameaçam invadir o espelho e quebrá-lo. Eles, que nos acordam à
noite, e para o qual desenvolvemos remédios e subterfúgios placêbicos para nos
reequilibrar.
Equilíbrio. Controle. Ilusões. Assim como qualquer imagem,
qualquer visão, totalmente vulnerável ao que está por trás das lentes, por trás
das mentes. Ilusão, na terra do caos, é a única certeza que, certamente, não
nos mente. É o conjunto união e a interseção. Ilusão é a única realidade
plausível.
Olha, mas diante
disso tudo, tudo o que eu quero é sobreviver o mais são possível. Sinto, claro,
que quanto mais insano, mais são. E quanto mais saudável, mas não somos o que
querem que sejamos. E mais eles não são. Sanitarizados em formulários de boas
práticas e governança corporativa robótica parametrizada para que sejamos
funcionais. Óbvio, não basta funcionar. Tem de parecer que funciona.
Então é isso. Cabeça no lugar. Imagem certa. Seguir regras.
Em alguma brecha, buscar algo mais, sem ferir demais os demais e arrombar a
rachadura. Na cara dura, tentar ser e parecer, e, se der tempo e for possível,
até viver.
Já andei de bermuda. Já andei de calça jeans. Já andei de
camisa social. Hoje, ando de blazer. Mas ainda sonho, e ainda quero andar com
uma guitarra e um violão. Caneta e papel na mão. E assim, trilhar meu caminho
na vida, até o ponto onde meu andar for manso, de short e camiseta, lembrando de
todas as roupas que usei, das estradas que percorri, das delícias que vivi, das
dores que senti, dos amores que amei. Lembrar de tudo o que sei, e do que fui e
sonhei, do que sou e ainda serei, até que o tempo me sopre as memórias de volta
ao caos.
Caos, meu lar doce lar. Sem a ilusão da visão. Sem ser
visto.
Lembrado, talvez. Por como me vestia. Por como era visto.
Espero que, também, por quem me importava e pelo que importava. E nisso,
invisto. Insisto em não perder de vista.
Hasta la vista.
Escreva mais. Obrigado.
ResponderExcluirGrande Xan!!! Muito bom!!! E parabéns pelo carro!! A blazer, mesmo antiga é um baita carro!! !
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